quarta-feira, 18 de maio de 2011

Quem é a nova mulher???

Por Marisa Sanabria

"Eu me sinto acuada, sem saída, é como se não pudesse mexer... A geração de vocês não ensinou a gente a ser mulher. Vocês tinham um inimigo, conquistaram a pílula, a liberdade, e nós? Onde está meu inimigo?"

" o que aparece é o cansaço da 'mulherada'...todas minhas amigas. Tenho 32 anos, com desgaste de 45. A gente conduz a própria história, trabalha muito, mas a um ritmo que não é meu"

Estas são frases que escutamos no consultório sobre como ser mulher e como exercer isso no mundo contemporâneo. Sabemos que nos séculos XVIII ou XIX, estava tudo muito claro. Os contornos sociais e institucionais davam não somente referências de comportamentos, atitudes e gestos, senão o que elas deveriam sentir e, evidentemente, o que poderiam desejar.

Um longo caminho foi percorrido, conquistas inquestionáveis foram alcançadas e hoje, com um panorama aparentemente amplo de escolhas, descobrimos que não está muito definido o que é ser mulher, quais os caminhos próprios, as determinações pessoais, a medida do equilíbrio, o ponto de amadurecimento e o limite das decisões.

 

" Eu não quero ser objeto, quero ser sujeito...Não consigo me definir a partir da beleza. Você não é mulher e não existe  se não é anoréxica, a pressão é insustentável." No mundo moderno temos modelos e respostas para tudo: para ser uma irresistível,  uma profissional de sucesso, uma mãe infinitamente dedicada. E, desta forma, a mulher está no emaranhado de uma rede que determina a forma como deve atuar, querer e desejar. Temos imposições e restrições em nome ser sempre feliz, uma pessoa do seu tempo, participativa, dinâmica, inesgotável, plugada e siliconada.

 

O que constatamos é um entristecimento profundo, um vazio constante e uma raiva contida daquelas que não conseguem parar e não possuem um conhecimento de si mesmas para fazer escolhas próprias. Aceitar fracassos, mudanças de rota, alteração de projetos e, sobretudo, admitir que nem sempre temos o domínio absoluto da situação nos coloca num lugar de lucidez. Tira-nos do espaço da vitima abandonada ou da super eficiente que controla tudo e sabe o que é bom para os demais. Determinadas a uma aparência única e a um comportamento padrão, a mulher adquire hábitos que não dizem respeito a ela e que promovem medo, inveja, isolamento e amargura.

 

No consultório, onde elas param a correria e se entregam a uma reflexão sobre si, onde o ritmo é mais lento e podem dar forma a suas inquietações e dúvidas, aparecem as motivações secretas, os desejos escondidos, a necessidade de desacelerar para saber dos limites e fragilidades sem culpa  e sem performance. "Queria um marido...um companheiro...para me apoiar, mas só falo disso aqui. Onde vou achar alguém da minha idade que ganhe mais do que eu? Sou sempre o homem da relação, quem decide tudo, fico sobrecarregada e sozinha...mas não sei separar...".

 

Marisa Sanabria é psicóloga, escritora e mestre em Filosofia pela UFMG.



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